AGOSTINHO E A PRESENÇA LATINA NAS ILHAS BRITÂNICAS



Victor Hugo de Oliveira Marques

              O encontro entre a Igreja Anglo-Saxã-Celta e o Cristianismo proveniente das influências do Império Romano Ocidental ocorreu quando o Papa Gregório, chamado de Magno pela história, envia o monge, e depois abade, Agostinho às ilhas Britânicas. A intenção de Gregório era aproveitar a crise do Império Romano Oriental para fortalecer o Império Romano Ocidental.
              Os relatos deste período, como o de Beda por exemplo, relata que Agostinho foi recebido pelo rei Etelberto do condado de Kent e muito rapidamente ocorreram “conversões”. Porém, a grande questão é que, ainda que muito insipiente, haviam pequenas comunidades cristãs presentes nas ilhas Britânicas. Esta presença, por sua vez, se diferia do modelo cristão vivido na Europa continental. Duas diferenças, ao menos, eram fundamentais: a data da celebração da páscoa e o modelo eclesiológico.
              Sobre este último, alguma coisa deve ser dita. Enquanto a Gália vivia o modelo diocesano-episcopal, o cristianismo britânico estava assentado sobre uma modelo monástico, a qual a liderança não estava centrada nos bispos, mas nos abades. Os monges irlandeses, sobretudo, não eram de vida recoleta, mas eram missionários e viviam uma vida inserida na sociedade.
              A chegada de Agostinho e outros cristãos de influência do Romano Ocidental, embora os comentadores insistem em dizer que foram cautelosos, tinham muito mais uma pretensão de uniformização do Império do que uma preocupação com a “a verdadeira fé”. Sob um princípio ideológico de unidade eclesial e uma forte rejeição advinda da experiência romana com a religião dos Druidas na Gália, as influências romanas de Agostinho e outros sufocaram uma autêntica experiência cristã originária inglesa.
              De modo geral, o cristianismo, desde suas origens, nunca foi uno. Pelo contrário, sempre foi diverso e híbrido. A tentativa de Agostinho, a mando de Gregório nas ilhas Britânicas, na verdade, fere a própria originalidade cristã, imperando uma com preensão histórica e cultural de um modelo que estava se consolidando no mundo europeu.
              Por outro lado, a entrada da Igreja inglesa no modelo romano permitiu que a experiência inglesa pudesse ser inserida na catolicidade cristã, quando esta pode ganhar elementos de universalização e tradição que são comuns à tradição europeia cristã.
              Em síntese, não obstante as razões que levaram a pequena Igreja Cristã inglesa ao mundo da Cristandade europeu não tenha base evangélica, sua inserção neste mundo permitiu que ela ganhasse contornos universais (católicos) e pudesse ser solidificada como uma tradição sólida. O problema é, como sempre, a dificuldade de conciliação entre a universalidade e a particularidade que sempre na história do Cristianismo nunca foi resolvida.
Referências


DUQUE, F. S. A Igreja Missionária e a (re) cristianização  da Bretanha. Disponível em: http://www.encontro2012.mg.anpuh.org/resources/anais/24/1340757892_ARQUIVO_A_Igreja_Missionaria_e_a__re_cristianizacao_da_Bretanha.pdf  

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AGUARDEM!!!!

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