CULTIVADORES DO AMOR
Depois do ato que aconteceu em Campo Grande no dia 20 maio de 2018 na praça central Ari Coelho denominado, “Campo Grande Veste Branco contra Intolerância Religiosa”, que reuniu pessoas de várias manifestações religiosas como as de matriza africana, as de matriz ancestral (pagãos) e cristãos, me surgiu um questionamento: O que está acontecendo no mundo, quando o ódio supera o amor, quando o individualismo impera e os menos favorecidos são desprezados? Onde está a acolhida dos irmãos e irmãs que pensam diferente, dos que vivem de maneira própria, seja na forma de expressar sua fé ou a ausência dela? Onde está o respeito por ser de direita ou de esquerda, e pensar diferente?
Deus não faz distinção de pessoas, (Atos, 10,34) pensamentos e sexualidade., já que Ele tudo criou e igualmente cuida com carinho (Sab, 6,7). Ao que parece a cultura do ódio, do desconhecimento, do não se importar com a dor do outro, cujo "eu" quer estar no centro do universo e que seleciona somente aqueles que pensam igual para estar juntos., é essa cultura que tem prevalecido. Prega-se a justiça, a igualdade, a fraternidade, a paz e amor, porém se o outro pensar diferente, toda afinidade e, amizade se esvai, tornando-se, portanto, inimigos.
Toda sorte de violência verbal e física nasce da “filosofia do conhecimento raso”, do conhecimento superficial, de manchetes, e de redes sociais. Não há o hábito de se fazer uma reflexão profunda, uma releitura dos acontecimentos, uma busca de fontes verdadeiras e nesse desconhecimento total, ignorante midiático, compartilham-se meias verdades, alimentando e cultivando o ódio aos quatro ventos.
Nessa filosofia barata (ou pseudofilosofia), ocorre todo tipo de pré-conceito, fazendo distinção de classe, posição social, cor de pele, religião, etnias, sexo etc., já que se pratica toda sorte de violência, principalmente (infelizmente) aquela que estamos acostumados a ver nos noticiários. São ataques sobre aqueles que têm ideologia diferente e toda forma de violência, que subtraem e ceifam vidas de forma brutal.
É triste perceber que o mundo está passando por um período de transformação profunda e talvez irreversível. O planeta está sofrendo todo tipo de agressão, poluição, desmatamento e o pior de todos é a discriminação do ser humano, um ser menosprezando outro por qualquer motivo banal.
É preciso tomar muito cuidado e se colocar sempre no lugar do outro, ter bom senso e saber respeitar que o outro também tem o direito de ter sua opinião, sua maneira de pensar e agir, seu jeito de vestir e conviver na sociedade. Respeito e tolerância é a melhor saída para todos esses desaventos ocorridos do pelo mundo. E sejamos rápido pra ver se ainda dá tempo de salvar o planeta, caso contrário tudo será consumado.
Deus manda que sejamos justos para com o irmão, para que não haja "distinção de pessoas" nos julgamentos. Devemos "ouvir o pequeno como o grande sem temer ninguém, porque o juízo é de Deus" (Dt, 1,7). Ainda em Deuteronômio 10,17, o autor põe na boca de Deus palavras de sua grandeza, seu poder diante dos seres humanos e de todos os outros seres: "Deus é o Deus dos deuses e o Senhor dos senhores, o Deus grande, poderoso e temível ". O texto termina com uma grande reflexão que poderíamos ter como meta de convivência "...que não faz distinção de pessoas..."; e acrescenta um termo muito conhecido nos dias atuais, que ocorre em todos os níveis da sociedade,. desde o mais humildes até o ditos poderosos da sociedade, inclusive no meio podre da política que é a propina: "e nem aceita presentes"
Ainda em Deuteronômio 16,19, ocorre outra vez o tema da não distinção de pessoas: "porque os presentes cegam os olhos do sábio e destroem a causa dos justos". Em acompanhamento de muitos julgamentos ou em qualquer momento de nossas vidas, já testemunhamos que o dinheiro compra tudo, inclusive o julgamento., Parece que só é condenado (generalizando), quem não tem dinheiro, os menos favorecidos, dando-nos a ideia de que a justiça não é igual pra todos, a justiça dos homens, pois Deus não faz distinção (Atos 10,34).
E os julgamentos injustos não param por aí, existem outros que ocorrem em qualquer meio da sociedade, em qualquer lugar onde se aglomera seres humanos. É a discriminação pela aparência física, onde o belo, o alto, corpo definido segundo os padrões da moda é o que tem vez e voz. Se somos todos criaturas do mesmo criador, porque mantermos esse comportamento?
Vejamos o que o Senhor Deus disse em I Samuel 16,7: "Não te deixes impressionar pelo seu belo aspecto, nem pela sua alta estatura, porque eu o rejeitei" e segue dando uma bela explicação pra que não façamos julgamento pela aparência "o que o homem vê não é o que importa, o homem vê a face, mas o Senhor olha o coração"
E manda que vigiemos nossos comportamentos perante esses padrões, que estejamos abertos e teremos o temor de Deus em nossos corações e alerta ainda sobre admissões de presentes como já foi falado. Em II Crônicas 19,7 diz assim: "que o temor a Deus esteja convosco, vigiai o vosso procedimento, pois junto do Senhor, nosso Deus não há iniquidade, nem distinção de pessoas, nem admissão de presente. "
Deve se ter em mente que todos somos filhos de Deus, que todos têm o mesmo direito e dever. Ser respeitado e respeitar, por sermos obra de Deus (Jó 34,19). Podemos ter uma reflexão muito profunda e bonita de igualdade, onde Deus iguala todos no mesmo nível, com o mesmo peso e a mesma medida. Que alegria quando lemos que Ele não tem preferência e considera todos seus filhos.
Em Jesus Cristo pode-se perceber que ele seguiu a risca a vontade de Deus. Pois Ele esteve tanto junto com os ricos quanto com os pobres (na maioria das vezes vemos Jesus sempre defendendo os menos favorecidos), e em seus ensinamentos também Ele não fazia distinção entre as pessoas. Pode ser constatado quando os discípulos dos fariseus o procuram em Mateus 22,16 e Marcos 12, 4 eles dizem ao abordá-Lo que Jesus é verdadeiro e sincero, ensina o caminho de Deus sem lisonjear, nem preocupar com ninguém pela aparência dos homens.
Que esse texto não se torne mais um sermão moralista, mas se torne uma reflexão para o aprofundamento da fé, uma reflexão para aumentar em nós a espiritualidade, o acolhimento e o amor para com o diferente. Que saibamos ver as pessoas além das aparências, e que não seja a primeira impressão a ficar e sim a essência que existe em cada ser.
Lembrando que o universo pessoal é único, cada um, cada uma tem o direito de ser o que é, de ser feliz sabendo que Deus o ama e não faz distinção. Ele acolhe cada um, cada uma com seu jeito de ser. Todos temos uma essência própria. Essa essência é uma luz que brilha forte, que tem uma tonalidade própria e que precisa ser mantida acesa através da oração, meditação e principalmente através do acolhimento do irmão diferente, com carinho, respeito e amor. "Porque diante de Deus não há distinção de pessoas" (Romanos 2,11).
Sejamos cultivadores do AMOR
Valdir Geremias Nemezio
Coordenador do Conselho Pastoral Paroquial
Fitoterapeuta
CNF-019
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