O AMBIENTE RELIGIOSO DA INGLATERRA
REFERÊNCIA
BIBLIOGRÁFICA: CHATFIELD, Adrian. Algo em Comum:
Uma Introdução aos princípios e práticas do anglicanismo mundial. Tradução de
Jaci Maraschin. Edição e editoração de David Payne. St John’s Nottingham; TEAC.
p. 12ss.
Se pensarmos no anglicanismo
como o conjunto de ramos de uma árvore, este capítulo nos mostrará como todos
esses ramos brotaram de um só tronco a partir de raízes plantadas no mesmo
solo – o ambiente histórico da antiga e milenar igreja na Inglaterra.
Cristianismo
romano
Havia na Inglaterra uma
igreja fundada pelos romanos desde tempos primitivos. Os cristãos vieram para
o território britânico por volta do ano 200 d.C. junto com a ocupação romana.
O cristianismo inglês, portanto, faz parte da comunidade cristã antiga. Há
evidência de que cristãos, como Santo Albano, foram martirizados na Inglaterra
nos séculos 3 e 4 de nossa era.
A igreja na Inglaterra teria
sido organizada, como em outras partes do Império Romano, com hierarquia de
bispos. Segundo as normas da prática romana, as sés episcopais situavam-se em
cidades. Os bispos supervisionavam bispos, sacerdotes e diáconos. Quando
cessou o controle romano sobre os britânicos no começo do século quinto, as
cidades (onde vivia a maior parte dos cristãos) entraram em colapso e os
líderes romanos das igrejas fugiram, em primeiro lugar, para as zonas rurais
e, depois, para o continente europeu. Ao mesmo tempo, grupos tribais (que não
eram cristãos) invadiram as cidades e isolaram os britânicos do resto da
Europa. Esses grupos ( anglos, saxões e outros) trouxeram suas práticas
religiosas como, por exemplo, o culto de Woden. Traços dessa tradição ainda
se encontram na língua inglesa - Wednesday [quarta-feira] é o dia de Woden.
Igrejas foram destruídas e os educados fugiram. Entretanto, alguns
convertidos cristãos permaneceram e mantiveram viva a fé cristã. Eram
chamados de britons (palavra que originou o termo britânico). Não tinham para
onde fugir!
Cristianismo
britânico
utras partes da Bretanha
(País de Gales, Escócia Ocidental e boa parte da Irlanda) também teriam sido
evangelizadas muito cedo, mas por outra forma de cristianismo não-romano. É o
que se chama, em geral, de cristianismo britânico, tendo essa palavra o
sentido dado a várias tribos aborígenes da Bretanha. Não temos evidência
histórica, embora haja referências a essa possibilidade nos desenvolvimentos
posteriores do cristianismo celta. É daí que vieram os grandes santos celtas:
Patrício, Niniano, Columba e outros.
Há fortes evidências de que
esse tipo de cristianismo teve raízes na África do Norte. Até os observadores
menos meticulosos podem perceber semelhanças entre a arte egípcia e a arte
cristã irlandesa!
É provável que cristãos
romanos e britânicos tivessem trabalhado em conjunto na era pós-romana, mas
com algumas diferenças importantes:
Assim, a história da igreja
na Inglaterra oscilava entre dois tipos:
Cristianismo romano, urbano, bem estabelecido, governado por bispos relacionados com o bispo de Roma. Cristianismo bretão, rural, peregrino, governado por líderes monásticos, com bispos considerados iguais. |
AGOSTINHO e a
missão gregoriana
No ano em que morreu
Columba, um dos mais importantes bispos de Roma da época, Gregório Magno,
enviou missionários à Inglaterra para converter os anglo-saxões. É provável
que nunca tivesse ouvido falar da existência do cristianismo britânico. Entre
esses missionários destacava-se Agostinho.
A Inglaterra era governada
na época por diversos “reis” ingleses. Ethelbert casara-se com uma princesa
cristã ( de origem franca) e permitia conversões ao cristianismo, embora ele
mesmo nunca se tivesse convertido. Dois outros “reis” vizinhos converteram-se
embora um deles adorasse ao mesmo tempo o antigo deus pagão.
Gregório estabeleceu duas
províncias – a primeira em Cantuária (anteriormente Londres) e a outra, em
York – com dois bispados. O povo tinha permissão de continuar a sacrificar
seus bois, e o festival da primavera, em honra da deusa Eostre,
transformou-se na Páscoa. As celebrações pagãs de Yuletide transformaram-se
na festa da natividade (Natal).
Quando Agostinho descobriu
que já havia cristãos nas ilhas, entrou em contato com eles e exigiu que
ajustassem a data da Páscoa à estabelecida por Roma. Também introduziu o rito
romano para batismo e confirmação. Essas ordens foram recusadas – talvez por
causa da arrogância de Agostinho ou devido a sua dependência do rei
Ethelbert.
Por volta de 619, Paulinus extendeu a missão romana à Northumbria. Edwin, rei dessa região, converteu-se em 628. Em 670 todos os reis ingleses já se haviam convertido ao cristianismo e começaram a suprimir as religiões pagãs – embora não se saiba muito bem até que ponto as práticas religiosas antigas persistissem escondidas.
À medida que o cristianismo
romano avançava para o norte, suas duas versões - agostiniano/romano e
britânico – enfrentavam-se e as disputas tornavam-se agudas. O problema não
era doutrinário mas a respeito de autoridade. A questão da supremacia do
bispo de Roma não havia ainda surgido entre os cristãos britânicos.
Assim, no Concílio de
Whitby, em 664, os temas controvertidos eram estes:
Wilfrid de Ripon propôs um
acordo, convencido, por ser do norte, da importância da adesão aos modelos
romanos. Com isso, a igreja inglesa voltou-se para Roma.
Para se entender a natureza
do anglicanismo convém lembrar o seguinte:
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